Compartilho da indignação do presidente da Assembleia Legislativa do
Ceará e de seus pares quanto à pichação na parede daquela Casa, bem como da
avariação de um de seus banheiros durante manifestação feita pelos professores
no parlamento. O culpado tem de ser punido. No entanto, o exagero que se deu
ao fato, sendo alvo de páginas inteiras nos jornais, é desproporcional à
discussão que não está sendo feita pela grande imprensa e nem por aquela Casa
Legislativa sobre os reais motivos da greve dos professores.
A indisposição para o diálogo e a arrogância do governador aliadas ao
silêncio dos nobres deputados levaram a comunidade escolar bater à porta da
Assembleia para intermediar um diálogo com o Poder Executivo. Naquele dia,
surdos ao apelo dos professores, os deputados votavam a lei da zona de
segurança do governador, um antídoto às manifestações populares, fazendo-nos
lembrar um ditador militar que dizia ter nojo do povo preferindo o odor de
seus cavalos. Não houve um só deputado que viesse à rua falar com os
professores em greve, nenhum subiu ao carro de som para prestar solidariedade
aos professores.
No dia seguinte, a Justiça decreta a ilegalidade da greve. Os
professores continuaram o movimento, duplicaram os participantes, cerca de 10
mil pessoas, e voltaram às ruas, para apelar novamente para a dita Casa do
Povo.
Naquela ocasião o patrimônio da Assembléia foi danificado e as
providências para punir o culpado já foram amplamente divulgadas. Mas a
democracia representativa está pichada: primeiro pelo silêncio dos
representantes do povo quanto ao grave problema dos educadores do Ceará,
fruto da ausência de uma oposição e de um Executivo autista que se recusa a
dialogar; segundo, por uma Justiça tão ágil em criminalizar movimentos
populares e tão lenta para julgar e fazer os culpados devolverem os recursos
surrupiados pela corrupção; terceiro por uma mídia sensacionalista que, por um
ato isolado, nominam os professores e alunos de vândalos.
Que tal senhor presidente se, além da investigação para apurar a tão
propalada pichação e a avariação de um banheiro, a Casa do Povo liderasse um
amplo movimento anticorrupção no Ceará começando por uma CPI dos banheiros fantasmas? Só assim os recursos destinados à educação seriam
suficientes para o governador cumprir a Lei do Piso em cima do Plano de
Careira do Magistério. Os alunos voltariam às salas de aula e nós professores
seríamos estimulados a falar de democracia como algo concreto e não apenas
como uma invenção dos gregos.
Ana Maria Afonso Braga - Professora de História da Escola de
Ensino Médio Adauto Bezerra - Servidora do DNOCS - Coordenadora de Formação
Política do SINTSEF/CE
Artigo publicado no
Jornal O Povo, edição do dia 23 de setembro de 2011
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