sábado, 16 de abril de 2011

TRIBUTO AO GÊNIO: CHARLES SPENCER CHAPLIN


"Aos que me podem ouvir eu digo: `Não desespereis!' A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia, da amargura dos homens que temem o avanço humano..."
Charles Chaplin
Um gênio incompreendido em seu tempo...

Muito raramente a palavra "gênio" pode ser empregada com tanta propriedade quanto ao nos referirmos a Charles Chaplin, comparado por muitos a William Shakespeare. Sim, se o renascimento produziu gênios do quilate de Shakespeare, Bacon, Da Vinci, Maquiavel, a revolução industrial produziu gênios como Freud, Marx, Chaplin...
Antonio Gramsci recomenda comparar o desenvolvimento interno de uma dada teoria filosófica à estruturação interna de uma religião como o catolicismo, por exemplo. Assim como há a alta teologia e o catecismo - ambos com o mesmo eixo temático, a diferença residindo apenas no nível em que a mesma mensagem é transmitida a públicos distintos - sugeria o filósofo italiano o surgimento de um "catecismo marxista", a fim de contribuir para acelerar o surgimento da consciência de classe para si do proletariado - evidentemente que tanto a mais elevada teoria marxista do conhecimento e o catecismo proposto guardando uma grande coesão interna.
Seguindo esta linha de raciocínio, podemos pensar em freqüências vibratórias. Muitos de nós podemos estar vibrando na mesma sintonia em que vibrava Chaplin, embora, claro, dificilmente com a mesma genialidade. Àqueles que conhecem e se importam com esta vibração, que poderíamos chamar inclusive de Alto Humanismo, recomendo observar de perto a história de vida do grande ator, diretor e produtor cinematográfico.
Nascido na Inglaterra nos últimos lustros do século XIX, a virada do século o encontra menino ainda, paupérrimo, envolto em severos problemas econômicos e domésticos. Filho de artistas fracassados, viu no teatro seu único campo de atuação humana possível. Começava a demonstrar seu enorme talento quando o cinema se impôs como a "sétima arte" atraindo-o irresistivelmente para Hollywood. Ao longo de toda a sua vida, protagonizou, dirigiu, produziu, escreveu e musicou mais de setenta filmes, a maioria dos quais mudos, mesmo quando o som ia se tornando uma obrigatoriedade dentro da "sétima arte". Chaplin não queria que a fascinante figura do "Tramp" * falasse. Quando o cinema falado pressiona-o a mais não poder, o "Tramp" abre a boca no mais sublime dos discursos humanistas jamais ouvidos. Dele selecionei pequeno trecho para epigrafar estas linhas. O famoso "Último Discurso" do filme O Grande Ditador, desmantela todas as absurdas teses do nazi-fascismo, reclamando ao humano o lugar que tanto merece.
Impossível a quem quer que seja falar em tantas coisas extraordinárias (compreendendo aqui a "fala" como discurso corpóreo também) sem ser pelos mais variados motivos vítima de intolerâncias e incompreensões. Por exemplo, Chaplin jamais se filiou a qualquer partido político, mas sua crítica mordaz a todas as formas de injustiça ou de brutalidade contra o humano - com particular ênfase à dimensão social - coloca-o claramente no campo da esquerda; seu perfeccionismo levava-o a passar dias e noites a fio envolvido no acabamento final de determinados detalhes de seus filmes; como era feito principalmente de sentimentos e somente circunstancialmente de razão **, apaixona-se desbragadamente por Hetty Moyra Kelly, então com dezesseis anos, de quem a vida o afasta cruelmente, sem que ele chegue a sequer tocá-la - e ele passa o resto de seus dias a buscá-la em todas as mulheres com quem se relaciona.
 Chaplin atacava de maneira mordaz e genial toda e qualquer forma de autoritarismo, agradando a toda a gente que sempre acha sensacional "chutar o traseiro do guarda", levando contudo um certo desconforto aos representantes da lei e da ordem... De todo o modo, esta tem sido a tônica dos humanistas do século XX: viver entre as paixões políticas e a busca incansável daquela pessoa que é o complemento humano único e obrigatório de cada um que, quando Deus nos criou, fez com que fôssemos radicalmente dependentes de outrem na esfera mais íntima de nossa constituição física e psíquica.
Quando percebemos quem foi e o que pensou Charles Chaplin, percebemos como é brilhante aquele que nos leva ao humor pela dor (ou vice-versa, o que é quase a mesma coisa). Poucos conseguiram fazer planger as cordas da nossa sensibilidade com tal grau de maestria! Talvez por isso mesmo tenha sido expulso dos EUA, a "grande democracia"...
Além da básica filmografia especificamente de Chaplin, dentre os quais destacam-se O Garoto, Tempos Modernos, O Grande Ditador, e Luzes da Ribalta (este último verdadeiro "testamento poético" do grande gênio); há que se assistir também a Chaplin , do diretor britânico Richard Attenborough, referência obrigatória. Quando a mesquinhez do cotidiano ameaçar incomodar-nos, façamos como os surrealistas, refugiemo-nos no sonho, na fantasia, no delírio até - que muitas vezes encontramos mais traços de realidade no chamado delírio que nas vãs ilusões do cotidiano. 

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