JOÃO MELQUÍADES FERREIRA DA SILVA, conhecido como o cantor da Borborema, nasceu a 7 de setembro de 1889, em Bananeiras, Paraíba, e faleceu em João Pessoa, em 10 de dezembro de 1933. Militar aos 19 anos, foi promovido a sargento cinco anos mais tarde. Participou das campanhas de Canudos, em 1897, e do Acre, em 1903. Foi mestre da banda de corneteiros do 28º Batalhão em São João da Barra, Minas Gerais. Reformado em 1904, voltou à Paraíba onde fixou residência. Cantador e poeta popular, percorreu todo o nordeste vendendo folhetos e cantando desafios.
(Biografia extraída de BATISTA, Sebastião Nunes. Antologia da literatura de cordel, 1977)
ROMANCE DO PAVÃO MISTERIOSO
1
Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou vôo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha de um conde orgulhoso.
2
Residia na Turquia
Um viúvo capitalista
Pai de dois filhos solteiros
O mais velho João Batista
Então o filho mais novo
Se chamava Evangelista.
Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou vôo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha de um conde orgulhoso.
2
Residia na Turquia
Um viúvo capitalista
Pai de dois filhos solteiros
O mais velho João Batista
Então o filho mais novo
Se chamava Evangelista.
3
O velho turco era dono
Duma fábrica de tecidos
Com largas propriedades
Dinheiro e bens possuídos
Deu de herança a seus filhos
Porque eram bem unidos.
4
Depois que o velho morreu
Fizeram combinação
Porque o tal João Batista
Concordou com o seu irmão
E foram negociar
Na mais perfeita união.
Duma fábrica de tecidos
Com largas propriedades
Dinheiro e bens possuídos
Deu de herança a seus filhos
Porque eram bem unidos.
4
Depois que o velho morreu
Fizeram combinação
Porque o tal João Batista
Concordou com o seu irmão
E foram negociar
Na mais perfeita união.
5
Um dia João Batista
Pensou pela vaidade
E disse a Evangelista:
- Meu mano eu tenho vontade
de visitar o estrangeiro
se não te deixar saudade.
6
- Olha que nossa riqueza
se acha muito aumentada
e dessa nossa fortuna
ainda não gozei nada
portanto convém qu'eu passe
um ano em terra afastada.
Pensou pela vaidade
E disse a Evangelista:
- Meu mano eu tenho vontade
de visitar o estrangeiro
se não te deixar saudade.
6
- Olha que nossa riqueza
se acha muito aumentada
e dessa nossa fortuna
ainda não gozei nada
portanto convém qu'eu passe
um ano em terra afastada.
7
Respondeu Evangelista: - Vai que eu ficarei regendo os negócios como sempre eu trabalhei garanto que nossos bens com cuidado zelarei. 9 João Batista prometeu Com muito boa intenção De comprar um objeto De gosto de seu irmão Então tomou um paquete E seguiu para o Japão. 11 João Batista entrou na Grécia Divertiu-se em passear Comprou passagem de bordo E quando ia embarcar Ouviu um grego dizer Acho bom se demorar. 13 - Mora aqui nesta cidade um conde muito valente mais soberbo do que Nero pai de uma filha somente é a moça mais bonita que há no tempo presente 15 - De ano em ano essa moça bota a cabeça de fora para o povo adorá-la no espaço de uma hora para ser vista outra vez tem um ano de demora. 17 Os estrangeiros têm vindo Tomarem conhecimento Amanhã quando ela aparece No grande ajuntamento É proibido pedir-se A mão dela em casamento. 19 Logo no segundo dia Creuza saiu na janela Os fotógrafos se vexaram Tirando o retrato dela Quando inteirou uma hora Desapareceu a donzela. 21 O fotógrafo respondeu: - Lhe custa um conto de réis João Batista ainda disse: - Eu compro até por dez se o dinheiro não der empenharei os anéis. 23 Então disse Evangelista: - Meu mano vá me contando se viste coisas bonitas onde andaste passeando o que me traz de presente vá logo entregando. 25 Respondeu Evangelista Depois duma gargalhada: - Neste caso meu irmão pra mim não trouxe nada pois retrato de mulher é coisa bastante usada. 27 João Batista retirou O retrato de uma mala Entregou ao rapaz Que estava de pé na sala Quando ele viu o retrato Quis falar tremeu a fala. 29 Respondeu João Batista - Creuza é muito mais formosa do que o retrato dela em beleza é preciosa tem o corpo desenhado por uma mão milagrosa. 31 Respondeu Evangelista - Pois meu irmão eu te digo vou sair do país não posso ficar contigo pois a moça do retrato deixou-me a vida em perigo. 33 - Teu conselho não me serve estou impressionado rapaz sem moça bonita é um desaventurado se eu não me casar com Creuza findo meus dias enforcado. 35 Deram o balanço no dinheiro Só três milhões encontraram Tocou dois a Evangelista Conforme se combinaram Com relação ao negócio Da firma se desligaram. 37 Logo que chegou na Grécia Hospedou-se Evangelista Em um hotel dos mais pobres Negando assim sua pista Só para ninguém saber Que era um capitalista. 39 Os hotéis já se achavam Repletos de passageiros Passeavam pelas praças Os grupos de cavalheiros Havia muito fidalgos Chegado dos estrangeiros. 41 Quando Evangelista viu O brilho da boniteza Disse: - Vejo que meu mano Quis me falar com franqueza Pois esta gentil donzela É rainha de beleza. 43 No outro dia saiu Passeando Evangelista Encontrou-se na cidade Com um moço jornalista Perguntou se não havia Naquela praça um artista. 45 Evangelista entrou Na casa do engenheiro Falando em língua grega Negando ser estrangeiro Lhe propôs um bom negócio Lhe oferecendo dinheiro. 47 Respondeu-lhe Edmundo - Na arte não tenho medo mas vejo que o amigo quer um negócio em segredo como precisa de mim conte-me lá o enredo. 49 - Eu aceito o seu contrato mas preciso lhe avisar que eu vou trabalhar seis meses o senhor vai esperar é obra desconhecida que agora vou inventar. 51 Enquanto Evangelista Impaciente esperava O engenheiro Edmundo Toda noite trabalhava Oculto em sua oficina E ninguém adivinhava. |
8
- Quero te fazer um pedido: procure no estrangeiro um objeto bonito só para rapaz solteiro; traz para mim de presente embora custe dinheiro. 10 João Batista no Japão Esteve seis meses somente Gozando daquele império Percorreu o Oriente Depois voltou para a Grécia Outro país diferente. 12 João Batista interrogou: - Amigo fale a verdade por qual motivo o senhor manda eu ficar na cidade? Disse o grego: - Vai haver Uma grande novidade. 14 - É a moça em que eu falo Filha do tal potentado O pai tem ela escondida Em um quarto de sobrado Chama-se Creuza e criou-se Sem nunca ter passeado. 16 O conde não consentiu Outro homem educá-la Só ele como pai dela Teve o poder de ensiná-la E será morto o criado Que dela ouvir a fala. 18 Então disse João Batista - Agora vou me demorar pra ver essa condessa estrela desse lugar quando eu chegar à Turquia tenho muito o que contar. 20 João Batista viu depois Um retratista vendendo Alguns retratos de Creuza Vexou-se e foi dizendo: - Quanto quer pelo retrato porque comprá-lo pretendo. 22 João Batista voltou Da Grécia para a Turquia E quando chegou em Meca Cidade em que residia Seu mano Evangelista Banqueteou o seu dia. 24 Respondeu João Batista: - Para ti trouxe um retrato de uma condessa da Grécia moça que tem fino trato custou-me um conto de réis ainda achei muito barato. 26 - Sei que tem muitos retratos mas como o que eu trouxe não vais agora examiná-lo entrego em tua mão quando vires a beleza mudará de opinião. 28 Evangelista voltou Com o retrato na mão Tremendo quase assustado Perguntou ao seu irmão Se a moça do retrato Tinha aquela perfeição. 30 João Batista perguntou Fazendo ar de riso: - Que é isso, meu irmão queres perder o juizo? Já vi que este retrato Vai te causar prejuizo. 32 João Batista falou sério: - Precipício não convém de que te serve ir embora por este mundo além em procura de uma moça que não casa com ninguém. 34 - Vamos partir a riqueza que tenho a necessidade dá balanço no dinheiro porque eu quero a metade o que não posso levar dou-te de boa vontade. 36 Despediu-se Evangelista Abraçou o seu irmão Chorando um pelo outro Em triste separação Seguindo um para a Grécia Em uma embarcação. 38 Ali passou oito meses Sem se dar a conhecer Sempre andando disfarçado Só para ninguém saber Até que chegou o dia Da donzela aparecer. 40 As duas horas as tarde Creuza saiu à janela Mostrando a sua beleza Entre o conde e a mãe dela Todos tiraram o chapéu Em continência à donzela. 42 Evangelista voltou Aonde estava hospedado Como não falou com a moça Estava contrariado Foi inventar uma idéia Que lhe desse resultado. 44 Respondeu o jornalista: - Tem o doutor Edmundo na rua dos Operários é engenheiro profundo para inventar maquinismo é ele o maior do mundo. 46 Assim disse Evangelista: - Meu engenheiro famoso primeiro vá me dizendo se não é homem medroso porque eu quero custar um negócio vantajoso 48 - Eu amo a filha do conde a mais formosa mulher se o doutor inventar um aparelho qualquer que eu possa falar com ela pago o que o senhor quiser. 50 - Quer o dinheiro adiantado? Eu pago neste momento - Não senhor, ainda é cedo quando terminar o invento é que eu digo o preço quanto custa o pagamento. 52 O grande artista Edmundo Desenhou nova invenção Fazendo um aeroplano De pequena dimensão Fabricado de alumínio Com importante armação. |
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Movido a motor elétrico Depósito de gasolina Com locomoção macia Que não fazia buzina A obra mais importante Que fez em sua oficina. 56 Quando Edmundo findou Disse a Evangelista: - Sua obra está perfeita ficou com bonita vista o senhor tem que saber que Edmundo é artista. 58 Foram experimentar Se tinha jeito o pavão Abriram a lavanca e chave Encarcaram num botão O monstro girou suspenso Maneiro como balão. 60 Então disse o engenheiro: - Já provei minha invenção fizemos a experiência tome conta do pavão agora o senhor me paga sem promover discussão. 62 Edmundo ainda deu-lhe Mais uma serra azougada Que serrava caibro e ripa E não fazia zuada Tinha os dentes igual navalha De lâmina bem afiada. 64 À meia-noite o pavão Do muro se levantou Com as lâmpadas apagadas Como uma flecha voou Bem no sobrado do conde Na cumeeira pousou. 69 Chegou no quarto de Creuza Onde a donzela dormia Debaixo do cortinado Feito de seda amarela E ele para acordá-la Pôs a mão na testa dela. 71 Então Creuza deu um grito: - Papai um desconhecido entrou aqui no meu quarto sujeito muito atrevido venha depressa papai pode ser algum bandido. 73 De um lenço enigmático Que quando Creuza gritava Chamando o pai dela Então o moço passava Ele no nariz da moça Com isso ela desmaiava. 75 Ajeitou os caibros e ripas E consertou o telhado E montando em seu pavão Voou bastante vexado Foi esconder o aparelho Aonde foi fabricado. 77 Percorreu todos os cantos Com a espada na mão Berrando e soltando pragas Colérico como um leão Dizendo: - Aonde encontrá-lo Eu mato esse ladrão. 79 Disse o conde: - Nesse caso Tu já estás a sonhar Moça de dezoito anos Já pensando em se casar Se aparecer casamento Eu saberei desmanchar. 81 E Creuza estava deitada Dormindo o sono inocente Seus cabelos como um véu Que enfeitava puramente Como um anjo de terreal Que tem lábios sorridentes. 83 A moça interrogou-o Disse: - Quem é o senhor Diz ele: - Sou estrangeiro Lhe consagrei grande amor Se não fores minha esposa A vida não tem valor. 85 Como eu lhe tenho amizade Me arrisco fora de hora Moça não me negue o sim A quem tanto lhe adora! Creuza aí gritou: - Papai Venha ver o homem agora. 87 Ouviu-se tocar a corneta E o brado da sentinela O conde se dirigiu Para o quarto da donzela Viu a filha desmaiada Não pode falar com ela. 89 - Minha filha, eu já pensei em um plano bem sagaz passa essa banha amarela na cabeça desse audaz só assim descobriremos esse anjo ou satanás. 91 Evangelista também Desarmou seu pavão A cauda, a capota, o bico Diminuiu a armação Escondeu o seu motor Em um pequeno caixão. 93 Já era a terceira vez Que Evangelista entrava No quarto que a condessa À noite se agasalhava Pela força do amor O rapaz se arriscava. 95 Evangelista sentou-se Pôs-se a conversar com ela Trocando o riso esperava A resposta da donzela Ela pôs-lhe a mão na testa Passou a banha amarela. 97 E logo Evangelista Voando da cumeeira Foi esconder seu pavão Nas folhas de uma palmeira Disse: - Na quarta viagem Levo essa estrangeira. 99 Disse o conde: - Minha filha Parece que estás doente? Sofreste algum acesso Porque teu olhar não mente O tal rapaz encantado Te apareceu certamente. |
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Tinha cauda como leque As asas como pavão Pescoço, cabeça e bico Lavanca, chave e botão Voava igualmente ao vento Para qualquer direção. 57 - Eu fiz o aeroplano da forma de um pavão que arma e se desarma comprimindo em um botão e carrega doze arroba três léguas acima do chão. 59 O pavão de asas abertas Partiu com velocidade Coroando todo o espaço Muito acima da cidade Como era meia noite Voaram mesmo à vontade. 61 Perguntou Evangelista: - Quanto custa o seu invento? - Dê me cem contos de réis acha caro o pagamento o rapaz lhe respondeu: Acho pouco dou duzentos. 63 Então disse o jovem turco: - Muito obrigado fiquei do pavão e dos presentes para lutar me armei amanhã a meia-noite com Creuza conversarei. 65 Evangelista em silêncio Cinco telhas arredou Um buraco de dois palmos Caibros e ripas serrou E pendurado numa corda Por ela escorregou. 70 A donzela estremeceu Acordou no mesmo instante E viu um rapaz estranho De rosto muito elegante Que sorria para ela Com um olhar fascinante. 72 O rapaz lhe disse: - Moça Entre nós não há perigo Estou pronto a defendê-la Como um verdadeiro amigo Venho é saber da senhora Se quer casar-se comigo. 74 O jovem puxou o lenço Ao nariz da moça encostou Deu uma vertigem na moça De repente desmaiou E ele subiu na corda Chegando em cima tirou. 76 O conde acordou aflito Quando ouviu essa zuada Entrou no quarto da filha Desembainhou a espada Encontrou-a sem sentido Dez minutos desmaiada. 78 Creuza disse: - Meu pai Pois eu vi neste momento Um jovem rico e elegante Me falando em casamento Não vi quando ele encantou-se Porque me deu um passamento. 80 Evangelista voltou Às duas da madrugada Assentou seu pavão Sem que fizesse zuada Desceu pela mesma trilha Na corda dependurada. 82 O rapaz muito sutil Foi pegando na mão dela Então a moça assustou-se Ele garantiu a ela Que não eram malfazejos: - Não tenha medo donzela. 84 Mas Creuza achou impossível O moço entrar no sobrado Então perguntou a ele De que jeito tinha entrado E disse: - Vai me dizendo Se és vivo ou encantado. 86 Ele passou-lhe o lenço Ela caiu sem sentido Então subiu na corda Por onde tinha descido Chegou em cima e disse: - O conde será vencido. 88 Até que a moça tornou Disse o conde: - É um caso sério Sou um fidalgo tão rico Atentado em meu critério Mas nós vamos descobrir O autor do mistério. 90 - Só sendo uma visão que entra neste sobrado só chega à meia-noite entra e sai sem ser notado se é gente desse mundo usa feitiço encantado. 92 Depois de sessenta dias Alta noite em nevoeiro Evangelista chegou No seu pavão bem maneiro Desceu no quarto da moça A seu modo traiçoeiro. 94 Com um pouco a moça acordou Foi logo dizendo assim: - Tu tens dito que me amas com um bem-querer sem fim se me amas com respeito te senta juntos de mim. 96 Depois Creuza levantou-se Com vontade de gritar O rapaz tocou-lhe o lenço Sentiu ela desmaiar Deixou-a com uma síncope Tratou de se retirar. 98 Creuza então passou o resto Da noite mal sossegada Acordou pela manhã Meditava e cismada Se o pai não perguntasse Ela não dizia nada. 100 E Creuza disse: - Papai Eu cumpri o seu mandado O rapaz apareceu-me Mas achei-o delicado Passei-lhe a banha amarela E ele saiu marcado. |
101
O conde disse aos soldados Que a cidade patrulhassem Tomassem os chapéus de Quem nas ruas encontrassem Um de cabelo amarelo Ou rico ou pobre pegassem. 103 Os soldados lhe disseram: - Cidadão não estremeça está preso a ordem do conde e é bom que não se cresça vai a presença do conde se é homem não esmoreça. 105 Evangelista respondeu: - Também me faça um favor enquanto vou me vestir minha roupa superior na classe de homem rico ninguém pisa meu valor. 107 Seguiu logo Evangelista Conversando com o guarda Até que se aproximaram Duma palmeira copada Então disse Evangelista: - Minha roupa está trepada. 109 Evangelista subiu Pôs um dedo no botão Seu monstro de alumínio Ergueu logo a armação Dali foi se levantando Seguiu voando o pavão. 111 Então mandaram subir Um soldado de coragem Disseram: - Pegue na perna Arraste com a folhagem Está passando na hora De voltarmos da viagem. 113 Voltaram e disseram ao conde Que o rapaz tinham encontrado Mas no olho de uma palmeira O moço tinha voado Disso o conde: - Pois é o cão Que com Creuza tem falado. 115 Disse Creuza: - Ora papai Me prive da liberdade Não consente que eu goze A distração da cidade Vivo como criminosa Sem gozar a mocidade. 117 - O rapaz que me amou só queria vê-lo agora para cair nos seus pés como uma infeliz que chora embora que eu depois morresse na mesma hora. 119 Às quatro da madrugada Evangelista desceu Creuza estava acordada Nunca mais adormeceu A moça estava chorando O rapaz lhe apareceu. 121 O rapaz disse: - Menina A mim não fizeste mal Toda a moça é inocente Tem seu papel virginal Cerimônia de donzela É uma coisa natural. 123 - Se o senhor é homem sério e comigo quer casar pois tome conta de mim aqui não quero ficar se eu falar em casamento meu pai manda me matar. 125 Creuza estava empacotando O vestido mais elegante O conde entrou no quarto E dando um berro vibrante Gritando: - Filha maldita Vais morrer com o seu amante. 127 Ouviu-se o baque do conde Porque rolou desmaiado A última cena do lenço Deixou-o magnetizado Disse o moço: -Tem dez minutos Para sairmos do sobrado. 129 Com pouco o conde acordou Viu a corda pendurada Na coberta do sobrado Distinguiu uma zuada E as lâmpadas do aparelho Mostrando luz variada. 131 Os soldados da patrulha Estavam de prontidão Um disse: - Vem ver fulano Aí vai passando um pavão O monstro fez uma curva Para tomar direção. 133 O conde olhou para a corda E o buraco do telhado Como tinha sido vencido Pelo rapaz atilado Adoeceu só de raiva Morreu por não ser vingado. 135 Em casa de João Batista Deu-se grande ajuntamento Dando vivas ao noivado Parabéns ao casamento À noite teve retreta Com visita e cumprimento. 137 Dizia o telegrama: "Creuza vem com o teu marido receber a tua herança o conde é falecido tua mãe deseja ver o genro desconhecido." 139 De manhã quando os noivos Acabaram de almoçar E Creuza em traje de noiva Pronta para viajar De palma, véu e capela Pois só vieram casar. 141 Os noivos tomaram assento No pavão de alumínio E o monstro se levantou-se Foi ficando pequenino Continuou o seu vôo Ao rumo do seu destino. 143 Na tarde do mesmo dia Que o pavão foi chegado Em casa de Edmundo Ficou o noivo hospedado Seu amigo de confiança Que foi bem recompensado.
145
Disse a velha: - Minha filha Saíste do cativeiro Fizeste bem em fugir E casar no estrangeiro Tomem conta da herança Meu genro é meu herdeiro. |
102
Evangelista trajou-se Com roupa de alugado Encontrou-se com a patrulha O seu chapéu foi tirado Viram o cabelo amarelo Gritaram: - Esteja intimado!
104
- Você hoje vai provar
por sua vida responde como é que tem falado com a filha do nosso conde quando ela lhe procura onde é que se esconde.
106
Disseram: - Pode mudar Sua roupa de nobreza A moça bem que dizia Que o rapaz tinha riqueza Vamos ganhar umas luvas E o conde uma surpresa. 108 E os soldados olharam Em cima tinha um caixão Mandaram ele subir E ficaram de prontidão Pegaram a conversar Prestando pouca atenção. 110 E os soldados gritaram: - Amigo, o senhor se desça deixe de tanta demora é bom que não aborreça senão com pouco uma bala visita sua cabeça. 112 Quando o soldado subiu Gritou: - Perdemos a ação Fugiu o moço voando De longe vejo um pavão Zombou de nossa patrulha Aquele moço é o cão. 114 Creuza sabendo da história Chorava de arrependida Por ter marcado o rapaz Com banha desconhecida Disse: - Nunca mais terei Sossego na minha vida. 116 - Aqui não tenho direito de falar com um criado um rapaz para me ver precisa ser encantado mas talvez ainda eu fuja deste maldito sobrado. 118 - Eu sei que para ele não mereço confiança quando ele vinha aqui ainda eu tinha esperança de sair desta prisão onde estou desde de criança. 120 O jovem cumprimentou-a Deu-lhe um aperto de mão A condessa ajoelhou-se Para pedir-lhe perdão Dizendo: - Meu pai mandou Eu fazer-te uma traição. 122 - Todo o seu sonho dourado é fazer-te minha senhora se quiseres casar comigo te arrumas e vamos embora senão o dia amanhece e se perde a nossa hora. 124 - Que importa que ele mande tropas e navios pelos mares minha viagem é aérea meu cavalo anda nos ares nós vamos sair daqui casar em outros lugares. 126 O conde rangendo os dentes Avançou com passo extenso Deu um pontapé na filha Dizendo: - Eu sou quem venço Logo no nariz do conde O rapaz passou o lenço. 128 Creuza disse: - Eu estou pronta Já podemos ir embora E subiram pela corda Até que sairam fora Se aproximava a alvorada Pela cortina da aurora. 130 E a gaita do pavão Tocando uma rouca voz O monstro de olho de fogo Projetando os seus faróis O conde mandando pragas Disse a moça: - É contra nós. 132 Então dizia um soldado - Orgulho é uma ilusão um pai governa uma filha mas não manda no coração pois agora a condessinha vai fugindo no pavão. 134 Logo que Evangelista Foi chegando na Turquia Com a condessa da Grécia Fidalga da monarquia Em casa do seu irmão Casaram no mesmo dia. 136 Enquanto Evangelista Gozava imensa alegria Chegava um telegrama Da Grécia para Turquia Chamando a condessa urgente Pelo motivo que havia. 138 A condessa estava lendo Com o telegrama na mão Entregou a Evangielista Que mostrou ao seu irmão Dizendo: - Vamos voltar Por uma justa razão. 140 Diziam os convidados: - A condessa é tão mocinha e vestida de noiva torna-se mais bonitinha está com um buquê de flor séria como uma rainha. 142 Na cidade de Atenas Estava a população Esperando pela volta Do aeroplano pavão Ou o cavalo do espaço Que imita um avião. 144 E também a mãe de Creuza Já esperava vexada A filha mais tarde entrou Muito bem acompanhada De braço com o seu noivo Disse: - Mamãe estou casada.
FIM
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