quinta-feira, 29 de março de 2012

DEPREDAÇÃO DOS MONUMENTOS PÚBLICOS


A depredação e o abandono dos monumentos públicos vêm chamando a atenção na paisagem urbana e traz para a cena uma discussão sobre a cidade, cidadania, a responsabilidade pelo bem público e educação patrimonial. Não se trata de revolta contra valores, personagens, datas que esses monumentos significam ou representam, as intervenções e agressões não passam por nenhuma consciência crítica.
Ao longo do tempo a cidade constrói histórias e guarda nas ruas, praças e monumentos, várias memórias. Esse território simbólico é propriedade de todos. Mas o desconhecimento e o desprezo pela cultura e a memória da cidade coloca em cheque a noção de cidadania e a responsabilidade pela guarda, vigilância e conservação. Se a cultura está cada vez mais associada a entretenimento, tudo é diversão.

O vandalismo é um comportamento de uma sociedade individualista, que deu as costas aos valores e princípios, da moral e da ética. Estes foram substituídos por um desejo perverso de deixar na cidade o registro da violência e da impunidade. Uma brincadeira que aponta para a falta de compromisso com a coisa pública e com a memória da cidade, e se espalha como um vírus.
Talvez os heróis da cidade não sejam mais os homens públicos ou personagens da história da cidade, do Estado e/ou do País os que estão sinalizados no espaço público, e sim como proclama um apresentador de TV, são os halterofilistas do sexo e das banalidades que aparecem nesses programas líder de audiência.
Não só os monumentos, as fontes, o mobiliário e equipamentos urbanos como os telefones públicos, pontos de ônibus, lixeiras são alvos de alguma forma de depredação. A cultura da cidade está em recessão. Houve uma perda de sentimento e cuidado com o patrimônio coletivo, sem esquecer o aumento da população marginalizada, sem acessos às mínimas condições de sobrevivência.
Paralelo ao crescimento da cidade se desenvolveu todo tipo de marginalidade e violência.
Os bens públicos, administrados pelo Estado, são de responsabilidade de todos, sua guarda, conservação e vigilância. Mas uma população que despreza a memória, ninguém mais presta atenção nem de quem é o busto, o que significa o monumento, muito menos se interessa em saber do serviço que aquele equipamento presta a população e muito menos o que custa a sua manutenção.
Não há mais tempo para a educação e o frenesi da rua, ela é apenas o lugar de passagem de trabalhadores e consumidores. E uma vez por ano é a estrada do trio elétrico que arrasta o que resta nela e deixa no dia seguinte cicatrizes no patrimônio natural e cultural.
Por outro lado em nome da arte deposita-se qualquer coisa em qualquer lugar como se a cidade fosse um reservatório de uma forma estranha de auto-afirmação. Aprendemos com o progresso a produzir lixo, toda espécie de lixo que é lançado na cidade. É a barbárie moderna que decretou o fim da paisagem urbana, como uma construção coletiva e civilizada. Mais uma forma de agressão contra o espaço público. As intervenções da arte obedecem a outro raciocínio.
A educação deveria ser o principal meio de recuperação da civilidade e dos valores indispensáveis à vida social. Mas na própria escola se desencadeiam os pequenos atos de vandalismo, que começa com o chiclete na carteira e as pichações até a depredação das esquadrias e do mobiliário da escola.
Almandrade
Artista plástico, poeta e arquiteto. Para mais artigos deste autor clique aqui

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