Eu nunca gostei de Natal, nem quando era criança. E
não foi por falta de família, presentes, festas, etc. Noite de Natal nunca me
caiu bem.
Sou ateu, mas este não é o motivo de meu sentimento sobre o Natal, se
fosse só uma festividade religiosa não me incomodaria, até porque outras datas
comemorativas de crendices não me atingem em nada. Apesar de os crentes sempre
fazerem sincretismo religioso, na verdade nem religiosa é esta data, deriva de
uma festa pagã conhecida por Saturnália, que era realizada em dezembro em honra
de Saturno, que era o Deus todo poderoso da época. Isto desde mais de 200 anos
antes de Cristo. Também como nascimento de mitos esta data já festejou outros
como Tamuz, Deus da Suméria; Horus, Deus egípcio do Sol; Mitra; Átis; Buda;
Hércules; Krishna; etc. Todos nascidos coincidentemente em 25 de Dezembro e de
mães virgens, como convêm às divindades.
Também não é porque algumas pessoas queridas não
estão mais presentes, isto faz parte da vida, até tenho uma família bem
numerosa.
É porque no Natal é diferente. É TUDO FALSO.
O falso gelo das árvores. As decorações de péssimo
gosto;
O falso Papai Noel vestido de pijama vermelho dizendo ser uma pessoa que
nem existe de verdade, sempre enganando alguma criança.
A falsa felicidade estampada na cara de quem sai
desesperado para comprar presentes. Já viram alguma família sorrir demonstrando
tanta felicidade como nas propagandas de Natal? A falsa alegria mostrada nas
TVs, geralmente movidas a álcool.
As Falsas promessas, falsos perdões e falsa ilusão
de abundancia de presentes e guloseimas.
A falsa data de nascimento de Jesus Cristo.
A hipocrisia de pessoas falando em como ajudar os
pobres, tipo “Natal sem fome, doe brinquedos, etc”.
As músicas, todas de baixo astral, como a insípida
Jingle Bells ou o especial de fim de ano do Roberto Carlos de uniforme azul e
branco, congelado há 30 anos.
O trânsito intenso, a cidade caótica, a hipocrisia
dos sorrisos forçados, as ruas, avenidas e estradas tomadas por irresponsáveis
bêbados nos volantes arriscando a vida dos outros.
As mensagens de Natal recheadas de clichês, como
"Que o espírito do Natal esteja em vossos corações". Que espírito?
Este surto de bondade e solidariedade significa ter um ótimo dia 25 de
dezembro? Deve ser.
Só isto já seria suficiente para não gostar desta data, mas o que
realmente mais me atinge, além da solidariedade transformada em obrigação onde
se comemora para não desapontar a família, é a covardia da comparação,
principalmente dos adolescentes, quando vêem os presentes uns dos outros e são
atingidos pela face cruel da desigualdade social. A tristeza de um pai que não
pode dar o que um filho esperava, mas vê outros ganharem, mostrando o abismo
que separa realidades.
Sei que se trata de uma questão social, mas isto
sempre me incomodou, pois sei que pessoas se esforçam além do possível para
comprar presentes, fazendo prestações quase insuportáveis somente para
satisfazer uma expectativa forçada pela propagandas enganosas, criando uma
obrigatoriedade em dar presentes, o que é uma maldade para quem tem
dificuldades e tem que contentar a ansiedade criada em seus filhos para
enfrentarem uma exibição desproporcional das possibilidades financeiras.
Neste dia os orfanatos se enchem de presentes,
geralmente velhos e quebrados, as casas de geriatria e asilos recebem filhos e
netos carinhosos, todos demonstrando muita solidariedade e verdadeiro amor
acompanhados por uma comilança indigesta.
Se fosse somente uma festa, mesmo que
proporcionasse reavivar as utopias da solidariedade e fraternidade, mas também
uma oportunidade de juntar familiares e terem algumas horas anuais de convívio,
onde os presentes fossem obrigatoriamente feitos com criatividade, sem valor
econômico até seria interessante, isto sob o ponto de vista de quem tem
família.
Mas Natal é uma promoção mercadológica quase
obrigatória, onde a compra de algum presente é uma exigência de demonstração de
afetividade sob pena de sofrer alguma sanção moral e afetiva, transformando o
valor do sentimento ao custo do presente.
Esta covarde feição discriminatória de quem pode
sobre os menos favorecidos, além de ser uma falta de humanidade, vem
acompanhada de também falsas promessas de paz e fraternidade que há muito foram
perdidas.
Não consigo achar nada agradável no Natal, nada
mesmo. Pois tudo que acham bom no Natal, incluindo a solidariedade, os
panetones e 13º Salário, poderia ser muito melhor se distribuídos durante o
ano.
Sei que a maioria absoluta gosta, como não sinto
obrigação de seguir a maioria, ainda bem que nem todos tem o mesmo gosto, eu
não participo de nenhuma atividade no Natal. Geralmente faço alguma viagem
curta, preferencialmente de moto, só para passar a data, e sozinho, pois
democraticamente entendo que meus familiares festejem à sua maneira.
Acho que o nome deveria ser trocado de Noite de
Natal para NOITE da HIPOCRISIA, seria uma atitude honesta pelo menos. Não é à toa que nesta data tem o maior índice de suicídios do mundo.
Bom Natal pra quem gosta.
Carlos Mello
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