quinta-feira, 11 de agosto de 2011

INDEPENDENCIA OU MORTE


O que significa produzir arte e cultura de maneira independente, num mundo tomado pela influência dos grandes conglomerados? Para um número cada vez maior de artistas-empreendedores, produzir sua obra fora da sombra das grandes marcas, do poder financeiro e dos governos, é questão de sobrevivência ética.

Estamos em meio a um processo de discussão de dois instrumentos importantíssimos que, se aprovados, darão respiro à produção independente no Brasil. O primeiro é a PLC 116, que garante espaço nas tevês para produtores audiovisuais independentes. O outro é o Procultura, que determina um percentual específico do investimento para a produção independente. Com isso, as grandes corporações até poderão investir em seus institutos e fundações, bem como em projetos do mainstream, mas terão de destinar uma parte do bolo aos independentes.
Esses dois dispositivos teriam a capacidade de alterar a realidade de quem luta por espaço num mercado cada vez mais estrangulado pela força dos grandes. Mas abre um debate importantíssimo sobre a definição de produção independente. E é justamente esse debate que pretendo pautar.
Não existe resposta fácil para essa pergunta. Em tese, produtor independente é aquele empreendimento desatrelado de conglomerados de mídia e entretenimento, capazes de potencializar sua performance empresarial por força e poder do grupo empresarial a que pertence. Um bom exemplo disso é a Globo Filmes, que não gozaria da posição privilegiada no mercado, não fosse o poder da mídia da Globo, com suas TVs, rádios, jornais e revistas, oligarquias regionais, Congresso Nacional.
Não podemos considerar empresas conduzidas por diretores desses grandes conglomerados como empresas independentes se a fonte de recursos que as mantém são provenientes de grupos empresariais. O mesmo podemos dizer de instutos e fundações empresariais. Sua subordinação à corporação já determina seu caráter não-independente. Órgãos públicos e de economia mista, obviamente são inclassificáveis como independentes (não se espante se ouvir alguém defender o contrário).
Mas a discussão não se encerra. O que podemos dizer de coletivo de arte, uma cooperativa, um ponto de cultura, ou um grupo que mantém sua atividade exclusivamente com dinheiro público? É possível classificar como independente um empreendimento cujas contas são pagas exclusiva ou quase exclusivamente pelo governo? O tamanho do empreendimento, seu volume de faturamento, são determinantes nessa classificação?
Independência significa liberdade de criar, propor ações, conduzir processos, sem estar subordinado a agendas pré-determinadas por investidores, patrocinadores e editais. Isso só é possível com uma variedade de fontes que garanta diálogo com diversas esferas da sociedade e sistemas de poder.


Leonardo Brant http://www.brant.com.br
Pesquisador independente de políticas culturais, autor do livro "O Poder da Cultura". Diretor do documentário "Ctrl-V | VideoControl, criou e edita o site Cultura e Mercado. É sócio-diretor da Brant Associados, consultoria para desenvolvimento de negócios culturais. Para mais artigos deste autor clique aqui

Nenhum comentário: