O cardeal Joseph Ratzinger conduziu durante dez anos o
processo para beatificação e posterior canonização do padre cearense: Cícero
Romão Batista.
Não há, no Vaticano, quem conheça melhor a vida e os “milagres” do
Padre Cícero. O cardeal Ratzinger é o maior especialista
sobre o Padre Cícero, dentro da Igreja Católica.
O cardeal Joseph Ratzinger virou o Papa Bento XVI e
esperava-se que ele desse sequencia ao processo que conduziu na condição de
cardeal, mas qual o quê?
O processo empacou no Vaticano.
Para entender a peleja do Vaticano com o Padre Cícero cabe
lembrar que a Santa Sé temia que a liderança religiosa do Padre cearense
levasse à criação de uma Igreja Católica, Apostólica e Brasileira.
Sim, porque a que está aí é Romana.
Na década de 1930, o Vaticano designou o reitor do Convento de
Brindsi, o frei Pio Giannotti, para liderar a “Santa Missão” destinada a
fortalecer o poder da Santa Sé na região mística do sertão nordestino.
Nessa região, especialmente na região das “sete cidades” do sertão do
Cariri, expandiu-se o fanatismo religioso que, ao contrário do que muitos
pensam, não começou com o Padre Cícero – antes dele, prevaleceu a
pregação do “padre Ibiapina”, uma espécie de precursor do Padre Cícero.
Ibiapina era um advogado em Recife que, por desilusão amorosa,
renunciou a toga e vestiu uma batina. Começou a pregar e a criar as chamadas
“Casas de Caridade”, o que assustou os padres franceses que administravam o
Convento de Fortaleza.
Pressionado pelo Vaticano, o “padre Ibiapina” capitulou. Mas,
quando o Vaticano pensava que tinha resolvido o problema, deu-se o “milagre” da
beata Maria de Araújo – que fez surgir o Padre Cícero como
novo líder espiritual na região do Cariri.
Em 1931, o ex-reitor do Convento de Brindsi, Pio Giannotti,
desembarcou no Brasil e mudou de nome. Passou a se chamar “frei Damião de
Bozzano”.
Soldado combatente na I Guerra Mundial, nada revelava na figura baixinha
do Frei Damião esse passado de guerreiro. E, no Brasil, ele se
desincumbiu com sucesso da tarefa dada pelo Vaticano e, se não conseguiu
eliminar totalmente o prestígio do padre Cícero, pelo menos conseguiu
dividi-lo.
E, por ironia, há quem o compare à reencarnação do Padre Cícero –
o que o Frei Damião rechaçava com mau humor, sob a alegação de que o Padre Cícero desobedeceu
ao papa.
Mas, gente, passado tantos anos e diante dessa oportunidade de ser o
papa atual o responsável pelo processo de canonização do Padre Cícero, não
é estranho que a Igreja Católica Romana ainda tema o prestígio do padre
cearense?
Quem sabe esse temor se deve ao fato de o Padre Cícero ser o
único líder religioso no mundo que não foi peregrino?
O padre Cícero nunca saiu do Juazeiro. As pessoas é que vão
lá, ainda hoje, para reverenciá-lo.
Roberto Villanova/Demontiêr
Tenório
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