Entidades
barbalhenses encaminham ofício ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – IPHAN, Solicitando a intervenção institucional a favor do Patrimônio
Cultural do Município, por entenderem que haverá uma descaracterização
urbano-cultural decorrente da política pública de substituição de parte da
pavimentação original do centro histórico. Afirmam se tratar de áreas
representativas da nossa paisagem urbana, cujas características históricas da sua
materialidade estão profundamente vinculadas às nossas tradições religiosas. Referem-se ao Calçamento de “pedra tosca”, das
laterais e do Largo do Rosário de Nossa
Senhora dos Pretos, idealizada pelos escravos no século XVIII, e, também,
as Ruas laterais e pátio da Igreja Matriz de Santo Antônio.
Vejam na íntegra o Ofício:
Barbalha – CE, 28 de Fevereiro
de 2012.
Da: Representação da sociedade Civil de Barbalha – CE
Para: Exmª Juçara Peixoto da Silva – Superintendente do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico do Nacional – IPHAN - Superintendência do Ceará.
ASSUNTO: Solicitação
de intervenção institucional a favor do Patrimônio Cultural do Município de
Barbalha
Considerando ser o município de
Barbalha detentor de potencialidades históricas, que representa o seu
patrimônio material e imaterial, dando-lhe especificidades regionais no campo
da cultura, vimos por meio deste, fazer ciente a este órgão governamental,
observações relativas à descaracterização urbano-cultural decorrente da
política pública de substituição de parte de pavimentação original do centro
histórico.
Como se sabe, Barbalha foi
contemplada com o Programa de Aceleração do Crescimento- PAC das cidades
históricas do Brasil através do Governo Federal, que, no caso de Barbalha
consiste na substituição da pavimentação atual por pedras de paralelepípedo, “granito”.
Nesse contexto, nós barbalhense
reconhecemos que essa obra de infra-estrutura fortalecerá as condições paisagísticas
do centro da nossa cidade, em áreas anteriormente historicamente já
descaracterizada com a pavimentação asfáltica.
Em momento
anterior, já havíamos contatado com essa Superintendência Regional, afirmando o
temor de historiadores, memorialistas e agentes culturais locais sobre possíveis
descaracterizações cultural derivada dessas obras em outras áreas de
importância histórica da cidade. Esse fato fez o IPHAN, através do Dr. Veloso,
interagir com o poder publico municipal, que lhe assegurou que a substituição
da pavimentação só ocorreria em áreas já descaracterizadas culturalmente com a
pavimentação asfáltica.
Contudo, presenciamos que existem algumas a
áreas que foram incorporadas a essa processo de substituição de pavimentação onde
trará significativo prejuízo à memória histórico-cultural da nossa cidade.
Trata-se de áreas representativas da nossa paisagem urbana, cujas
características históricas da sua materialidade estão profundamente vinculadas às
nossas tradições religiosas. Referimos-nos
ao Calçamento de “pedra tosca”, das laterais e do Largo do Rosário de Nossa Senhora
dos Pretos, idealizada pelos
escravos no século XVIII.
Justificando a importância histórico-cultural
dessas pavimentações originais de “pedra tosca, nas laterais e pátios das
nossas Igrejas às manifestações cultuais de Barbalha destacamos que estas
pavimentações:
a)
Sinalizam as primeiras intervenções de
empreendimentos públicos de pavimentação da cidade no século passado, e, que,
representam o trabalho materializado dos nossos “mestres de Obras” do passado,
já falecidos, que se destacaram por sua técnica e sensibilidade no processo
histórico da construção civil de Barbalha.
b)
Que essas áreas, a que nos referimos, tem sido palco
e testemunham meio século de carregamento do Pau da Bandeira de Santo Antônio,
cuja festa está em processo de reconhecimento como cultura imaterial pelo
IPHAN.
c)
As atuais “pedras toscas”, dos Largos e laterais das Igrejas de Nossa
Senhora do Rosário dos Pretos e Matriz de Santo Antônio, São palco a meio
século, dos passos cansados e cambaleantes dos devotos que conduzem o pau da
bandeira sobre os seus ombros, desde o Sítio São Joaquim ao pátio da Igreja
matriz.
d)
Na manifestação desta tradição, a originalidade
da “pedra tosca” dessas áreas representam as pavimentações mais antigas sobre
as quais ocorreram e ocorre o cortejo do Carregamento do Pau da Bandeira da
Festa de Santo Antônio de Barbalha – CE, em processo de reconhecimento como
Cultural imaterial pelo IPHAN.
e)
A Substituição desses calçamentos de “pedra
tosca” ignora o fator da sua historicidade vinculada à religiosidade e à
cultura do povo de Barbalha. Essa vinculação é reconhecida no fato de estas
serem áreas urbanas inseridas no inventário para o reconhecimento da Festa de
Santo Antônio como Cultura imaterial.
f)
Sendo uma tradição, cuja continuidade ocorre
pela espontaneidade da pratica da Fé em Santo Antônio transmitida entre as
gerações, a substituição dessa pavimentação representará uma ruptura com a
memória, considerando que os calçamentos de “pedra tosca”, são os testemunhos
materiais do exercício da tradição do carregamento do Pau da Bandeira.
g)
A atual pavimentação simboliza o caminho da fé, por
onde percorreram , percorrem e percorrerá os devotos carregadores do Pau da
Bandeira de Santo Antônio, dando continuidade a tradição. Sobre essas pedras
passaram várias gerações de devotos de Santo Antonio, a sua retirada
interceptará a continuidade desse fator urbano, histórico-cultural vinculado à
Festa do Padroeiro de Barbalha.
h)
É gratificante
para a auto-estima cultural do povo de Barbalha saber que nossas ruas continuam
preservando as mesmas características urbanas do exercício da fé em Santo Antônio vividas por nossos ancestrais, onde, se mudam
os sujeitos históricos, mas permanece o palco das nossas tradições.
Diante das exposições acima, recorrermos
ao IPHAN, através da sua Superintendência do Ceará, que, como Órgão Federal,
guardião da memória e que busca a salva guarda cultural das nossas tradições,
que intervenha junto ao poder publico responsável pela obra já iniciada em Barbalha,
para que, em nome da revitalização do centro histórico, não estejamos apagando
a memória cultural dos barbalhenses.
Para nós, barbalhenses, no processo de
substituição de pavimentação, a estética urbana não pode substituir e preterir nossas
raízes histórico-culturais. Não obstante, aceitamos que essa pavimentação já
iniciada em outras áreas, que lamentavelmente já foram descaracterizadas como
patrimônio ambiental urbano, trará significante benefício sócio-cultural para
nossa cidade, recompondo um pouco das características urbanas que foram
perdidas.
Certos da urgente intervenção dessa Superintendência
nesse processo para fortalecer o nosso patrimônio histórico-cultural, e, no
sentido de contribuir como sociedade civil na otimização das ações de políticas
culturais dessa conceituada Instituição, nos colocamos à sua disposição.
Atenciosamente:
Prof. Dr. Josier
Ferreira da Silva
Centro Pró-Memória de Barbalha Josafá
Magalhães
Prof.Gilsimar
Gonçalves
Grupo Currupio de Teatro
Francisco
Demontiêr dos Santos Vieira
Socieade Artística e Cultual Engenho Velho
Irapuã Cesar de
Oliveira
Ong Candeeiro das Trilhas
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