segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

ENTIDADES SOLICITAM INTERVENÇÃO DO IPHAN EM BARBALHA


Entidades barbalhenses encaminham ofício ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, Solicitando a intervenção institucional a favor do Patrimônio Cultural do Município, por entenderem que haverá uma descaracterização urbano-cultural decorrente da política pública de substituição de parte da pavimentação original do centro histórico. Afirmam se tratar de áreas representativas da nossa paisagem urbana, cujas características históricas da sua materialidade estão profundamente vinculadas às nossas tradições religiosas.  Referem-se ao Calçamento de “pedra tosca”, das laterais e do Largo do Rosário de Nossa Senhora dos Pretos, idealizada pelos escravos no século XVIII, e, também, as Ruas laterais e pátio da Igreja Matriz de Santo Antônio.
Vejam na íntegra o Ofício:

                                        Barbalha – CE, 28 de Fevereiro de 2012.

Da: Representação da sociedade Civil de Barbalha – CE
Para: Exmª Juçara Peixoto da Silva – Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Nacional – IPHAN - Superintendência do Ceará.
ASSUNTO: Solicitação de intervenção institucional a favor do Patrimônio Cultural do Município de Barbalha

Considerando ser o município de Barbalha detentor de potencialidades históricas, que representa o seu patrimônio material e imaterial, dando-lhe especificidades regionais no campo da cultura, vimos por meio deste, fazer ciente a este órgão governamental, observações relativas à descaracterização urbano-cultural decorrente da política pública de substituição de parte de pavimentação original do centro histórico.
Como se sabe, Barbalha foi contemplada com o Programa de Aceleração do Crescimento- PAC das cidades históricas do Brasil através do Governo Federal, que, no caso de Barbalha consiste na substituição da pavimentação atual por pedras de paralelepípedo, “granito”.  Nesse contexto, nós barbalhense reconhecemos que essa obra de infra-estrutura fortalecerá as condições paisagísticas do centro da nossa cidade, em áreas anteriormente historicamente já descaracterizada com a pavimentação asfáltica.
Em momento anterior, já havíamos contatado com essa Superintendência Regional, afirmando o temor de historiadores, memorialistas e agentes culturais locais sobre possíveis descaracterizações cultural derivada dessas obras em outras áreas de importância histórica da cidade. Esse fato fez o IPHAN, através do Dr. Veloso, interagir com o poder publico municipal, que lhe assegurou que a substituição da pavimentação só ocorreria em áreas já descaracterizadas culturalmente com a pavimentação asfáltica.
 Contudo, presenciamos que existem algumas a áreas que foram incorporadas a essa processo de substituição de pavimentação onde trará significativo prejuízo à memória histórico-cultural da nossa cidade. Trata-se de áreas representativas da nossa paisagem urbana, cujas características históricas da sua materialidade estão profundamente vinculadas às nossas tradições religiosas.  Referimos-nos ao Calçamento de “pedra tosca”, das laterais e do Largo do Rosário de Nossa Senhora dos Pretos, idealizada pelos escravos no século XVIII.
        Justificando a importância histórico-cultural dessas pavimentações originais de “pedra tosca, nas laterais e pátios das nossas Igrejas às manifestações cultuais de Barbalha destacamos que estas pavimentações:

a)     Sinalizam as primeiras intervenções de empreendimentos públicos de pavimentação da cidade no século passado, e, que, representam o trabalho materializado dos nossos “mestres de Obras” do passado, já falecidos, que se destacaram por sua técnica e sensibilidade no processo histórico da construção civil de Barbalha.
b)    Que essas áreas, a que nos referimos, tem sido palco e testemunham meio século de carregamento do Pau da Bandeira de Santo Antônio, cuja festa está em processo de reconhecimento como cultura imaterial pelo IPHAN.
c)     As atuais “pedras toscas”,  dos Largos e laterais das Igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e Matriz de Santo Antônio, São palco a meio século, dos passos cansados e cambaleantes dos devotos que conduzem o pau da bandeira sobre os seus ombros, desde o Sítio São Joaquim ao pátio da Igreja matriz.
d)    Na manifestação desta tradição, a originalidade da “pedra tosca” dessas áreas representam as pavimentações mais antigas sobre as quais ocorreram e ocorre o cortejo do Carregamento do Pau da Bandeira da Festa de Santo Antônio de Barbalha – CE, em processo de reconhecimento como Cultural imaterial pelo IPHAN.
e)    A Substituição desses calçamentos de “pedra tosca” ignora o fator da sua historicidade vinculada à religiosidade e à cultura do povo de Barbalha. Essa vinculação é reconhecida no fato de estas serem áreas urbanas inseridas no inventário para o reconhecimento da Festa de Santo Antônio como Cultura imaterial.
f)      Sendo uma tradição, cuja continuidade ocorre pela espontaneidade da pratica da Fé em Santo Antônio transmitida entre as gerações, a substituição dessa pavimentação representará uma ruptura com a memória, considerando que os calçamentos de “pedra tosca”, são os testemunhos materiais do exercício da tradição do carregamento do Pau da Bandeira.
g)     A atual pavimentação simboliza o caminho da fé, por onde percorreram , percorrem e percorrerá os devotos carregadores do Pau da Bandeira de Santo Antônio, dando continuidade a tradição. Sobre essas pedras passaram várias gerações de devotos de Santo Antonio, a sua retirada interceptará a continuidade desse fator urbano, histórico-cultural vinculado à Festa do Padroeiro de Barbalha.
h)     É gratificante para a auto-estima cultural do povo de Barbalha saber que nossas ruas continuam preservando as mesmas características urbanas do exercício da fé em Santo Antônio  vividas por nossos ancestrais, onde, se mudam os sujeitos históricos, mas permanece o palco das nossas tradições. 

        Diante das exposições acima, recorrermos ao IPHAN, através da sua Superintendência do Ceará, que, como Órgão Federal, guardião da memória e que busca a salva guarda cultural das nossas tradições, que intervenha junto ao poder publico responsável pela obra já iniciada em Barbalha, para que, em nome da revitalização do centro histórico, não estejamos apagando a memória cultural dos barbalhenses.
       Para nós, barbalhenses, no processo de substituição de pavimentação, a estética urbana não pode substituir e preterir nossas raízes histórico-culturais. Não obstante, aceitamos que essa pavimentação já iniciada em outras áreas, que lamentavelmente já foram descaracterizadas como patrimônio ambiental urbano, trará significante benefício sócio-cultural para nossa cidade, recompondo um pouco das características urbanas que foram perdidas.
      Certos da urgente intervenção dessa Superintendência nesse processo para fortalecer o nosso patrimônio histórico-cultural, e, no sentido de contribuir como sociedade civil na otimização das ações de políticas culturais dessa conceituada Instituição, nos colocamos à sua disposição.

Atenciosamente: 

Prof. Dr. Josier Ferreira da Silva
Centro Pró-Memória de Barbalha Josafá Magalhães

Prof.Gilsimar Gonçalves
Grupo Currupio de Teatro

Francisco Demontiêr dos Santos Vieira
Socieade Artística e Cultual Engenho Velho

Irapuã Cesar de Oliveira
Ong Candeeiro das Trilhas



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